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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Meu Futuro(3)

Na verdade, eu fui um sujeito que nunca me adaptei à vida. Com saco cheio, contestando a tudo e a todos, incluindo até mesmo à minha pessoa, fui empurrando a vida com a barriga. Com uma vontadezinha de morrer, mas ao mesmo tempo tendo o instinto de vida: "eu toco esta amargura atravessada, esta vontade, sem vontade de viver. É a lei da vida, tocar pra não morrer. A noite eu sempre durmo, na esperança de morrer, mas logo vem a banda me acordando pra viver. Sem outra solução, eu pego bombardão e vou tocar na banda da ilusão"(Alberto Luiz).

Jamais eu poderia imaginar que chegaria a viver mais de meio século de vida. 57 anos, e faço 58 no mês de maio. Mas, sinceramente, se tudo correr como planejo, não chegaria lá, aos 58 anos.

Não é à toa que um primo, que foi meu último amigo pessoal, durante mais de dez anos, disse que eu sou a pessoa mais contraditória que ele conheceu, e que uma psicóloga falou que sou uma pessoa à parte.

Talvez eu tenha nascido com o destino de ser um peão, um simples assalariado. Sim, sou um peão; tanto que durante anos , fui balconista de bancas de fruta no Mercado Central; fui um simples Auxiliar de Escritório, numa multinacional(uma das funções mais baixas da empresa); fui Auxiliar de Pessoal em vária firmas, principalmente nas nefandas contabilidades.
E é isso mesmo, sujeito burro, idiota, sem qualificação profissional, tem mais é que trabalhar com funções do tipo das que citei, percebendo baixos salários. Sou burro, idiota, louco , retardado, desajeitado, bobo.

Contudo, a minha diferença com a massa de peões, de trabalhadores medíocres e burros, que tanto ajudam os empresários a ficarem ricos, é que penso um pouco, não tenho a "humildade" e submissão que eles têm.
Se eu fosse como eles, não estaria casada só uma vez, não teria a felicidade de não ter filhos. Estaria trabalhando, ganhando mixaria, morando num bairro de periferia, de ambiente ruim, com a minha esposa e meus filhos, ou senão sozinho, mas tendo que dar uma pensão para os rebentos e sofrendo os eventuais aborrecimentos que todos os filhos dão.

Houve uma época que pensaram que eu tinha "tomado juízo": foi nos anos 80, de 1980 a 1983, quando trabalhei por 3 anos numa multinacional(antes disso, eu não fiquei nem um ano nas firmas-sempre pedia demissão). Além disso, eu havia me tornado espírita kardecista, frequentando assiduamente reuniões espíritas e até fazendo parte da evangelização de crianças que moravam , em sua maioria, na favela.
Tinha ânsias de sair do emprego. Vivia falando pra todos que detestava a multinacional. Todos eram contra, falando coisas: "o ambiente quem faz é a gente", "vc tem que por em mente que a firma é o local onde vc ganha dinheiro", "em todo trabalho, existem problemas".  Meus pais, minha chefia , outros em minha volta, estavam felizes por eu ter "tomado juízo", por ter me tornado um medíocre subalterno conformado, humilde, além de servo de Deus,praticando obras altruístas. Ninguém se importou pelo fato de eu estar infeliz, me sentindo um lixo, um inútil, revoltado, com a autoestima o mais baixo possível, incluindo minha querida mãe.

Pedi demissão. Foi um Deus nos acuda. Meu pai, ao eu lhe revelar, fez uma cara muito triste, parecendo que o mundo ia acabar, ficando uns tempos sem conversar comigo. Minha mãe, falou que eu tinha jogado a sorte fora; que pedi demissão para ficar à toa; que pensou que eu havia mudado, mas que eu continuava a mesma pessoa. Pouco tempo depois, me tornei cético, sem religião, sem acreditar no Deus das religiões, óbvio e, naturalmente, parei de frequentar o centro espírita.

... continua...

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