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quarta-feira, 16 de julho de 2014

Brás Cubas e Bentinho


Li poucos livros na minha vida.

Cheguei a ter um interesse por literatura, nos anos 80, comprando alguns livros, sobre marxismo , filosofia e psicanálise. Mas, meu interesse , se foi. Vendi a maioria dos livros.

Nunca li um livro de autor brasileiro. E, mais uma vez, dou graças à internet por ter conhecido um pouco, na verdade, apenas duas das obras do renomado Machado de Assis: "Dom Casmurro" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas".

Além de genialidade e criatividade, Machado de Assis exibe ironia e pessimismo. Curioso é que pelo que li a seu respeito, ele foi um homem bem sucedido e feliz, inclusive no amor, ficando anos casado com a bela Carolina, separados apenas pela morte da dama, que foi homenageada pelo autor com um belo poema póstumo.

Certamente, Machado era inteligente e observador do comportamento humano, da hipocrisia que nos permeia, retratando com maestria a sociedade de sua época.

Brás Cubas é um dos exemplos. E , depois de morto, resolveu revelar quem ele realmente era, sem máscaras!  Me identifico com ele, não em tudo, mas em alguns aspectos, inclusive , nunca fui rico, apesar de assim como ele, ter trabalhado pouco na vida, ter sido sustentado a minha existência quase toda, pelos meus pais.  Também fracassei em tudo, assim como ele. Outro ponto em comum: pelo menos , até o momento, tive uma saúde boa. Brás Cubas era pretensioso... pensando bem, fui pretensioso também, mormente na adolescência. Franzino , eu achava que poderia bater em colegas mais fortes. Feioso, eu queria namorar meninas lindas. E custei a perceber que eu era mesmo um desajeitado, não lá tão querido pelos outros. Custei a cair na real que me achavam um cara complicado e difícil de se lidar, especialista em dar foras.
Assim como Brás Cubas, me vanglorio de não ter tido filhos. Creio que são essas coisas , que temos em comum.

Já imaginaram se tivesse vida pós-morte e se cada um fosse julgado, é, por um juri mesmo e incluído na platéia algumas das pessoas que conviveram conosco, na nossa estada na Terra? Aí, como numa tela de cinema, exibiriam trechos importantes , marcantes de nossa vida, inclusos nossos erros, nossas injustiças, o que nós aprontamos, sendo que alguns destes fatos eram desconhecidos pelas pessoas do nosso convívio.
É, muita coisa seria revelada, surpreendendo a muitos. Eu, em certos momentos do julgamento, super constrangido, com vergonha, abaixaria a cabeça, com vontade de sumir.

Mesmo os não fracassados, se parecem com Brás Cubas.

"Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." (Brás Cubas)

... continua...


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