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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O Dia Em Que Saí De Casa(1)

O ano era 1978 ou 1979. Eu morava com meus pais e meu irmão. Estava desempregado.

Eu não tinha despesas em casa. Gastava meu dinheiro comprando discos e passeando semanalmente, bebendo, comendo tira-gostos e paquerando um pouco.

Eu tinha dinheiro na caderneta de poupança. Na época, a ditadura militar criou um plano que, só poderíamos sacar o juros da poupança de três em três meses. Bom, a gente até poderia sacar, mas perdia o rendimento.

Assim que eu sacava , comprava uns discos e usava minha grana para os passeios...

Eu era muito fanático com rock. As minhas fontes para comprar discos eram as revistas e, principalmente, uma emissora de rádio, a Rádio Cultura.
O problema era que, às vezes, ao eu acabar de comprar meus discos, a Rádio Cultura tocava sons novos, mas eu já não tinha dinheiro para comprá-los; teria que esperar três meses para adquirir os discos.

Meus pais me pediram dinheiro emprestado. Eles pagariam o juros iguais aos do rendimento da poupança.

Neste ínterim , tive, não me lembro mais por qual motivo, uma fortíssima discussão com a minha mãe. Irado, falei que eles me pagassem o que me deviam, porque eu iria sair de casa. Vale lembrar, que meus pais eram honestos, não eram caloteiros, eram bons para pagar suas dívidas.

Meu pai, arrumou dinheiro emprestado e me pagou o que devia.

Era uma manhã, no começo da semana. Nem me lembro direito se me despedi da minha mãe... Creio que me despedi sim, mas foi um simples "tchau".

Fui na rodoviária. Queria pegar um Cometa, para ir até São Paulo. Fazer o que em São Paulo?! Ah, saí de casa, mas sem mala, só com a roupa do corpo e dinheiro no bolso(rs). O ônibus para a capital paulista havia acabado de sair...

Ao esperar outro ônibus, comecei a divagar... eu, com 23 anos, tinha ciência de que quem saí de casa e vai tentar a sorte fora, sofre muito, costuma comer o pão que o diabo amassou. Naquela época, eu não tinha nem o ensino médio, só o ginásio. Não queria estudar. Minha experiência profissional, era apenas como balconista em bancas do Mercado Central. Eu não tinha ambição. Estava desanimado e desiludido.
Daí, achei melhor voltar para a casa.rs.

Fiquei a tarde toda na rua. E aproveitei o dinheiro no bolso para comprar uns 10 discos. Até então, eu nunca tinha comprado tanto disco assim. Aliás, só uma vez, depois disso, é que comprei uns 10 discos de uma só vez: todos dos Beatles.

Mas , o grande problema era que eu temia que meu pessoal visse eu chegando com os discos, e poderiam dizer que fui calculista, brigando com a minha mãe, apenas para que eles me pagassem e eu comprasse os discos. Mas, sinceramente, minha briga , meu sentimento , foi real, ao brigar com a minha mãe. Nada a ver com a intenção de comprar os discos.

Bem, eu tinha a chave da porta da varanda(morávamos num prédio). Pertinho da porta, havia um quarto de despejo, depois o tanque e a cozinha. Eu pretendia entrar em casa e deixar os discos escondidos no quarto de despejo. Aí, quando minha mãe fosse ao banheiro, eu os pegaria. Eu tinha que contar com a sorte para que quando eu chegasse , não me deparasse com a minha mãe no quarto de despejo, no tanque ou na cozinha. E a sorte me ajudou... deixei os discos escondidos no quarto de despejo. Só cumprimentei minha mãe, que me respondeu secamente. Quando ela foi ao banheiro, peguei meus amados discos.

...continua...




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