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domingo, 18 de janeiro de 2015

O Mundo é dos Espertos(e dos habilidosos) parte 3

Ególatra:

De 1976 a 2007, frequentei assiduamente lojas de discos.
Em 1979, cheguei até a trabalhar em uma. Mas, fiquei trabalhando apenas por 41 dias. Não gostei... pedi demissão.

O Ególatra ficava na loja de segunda a sexta-feira, à tarde.
Estranho porque nunca o tive como um cara de pau, um sujeito entrão e inconveniente.
Ele era muito discreto. E, às vezes, acontecia dele atender os clientes, enquanto nós, os funcionários, ficávamos de braços cruzados(rs).

Uns dois ou três anos mais jovem do que eu, Ególatra media de 1,76 a 1,78 cm de altura. Tinha um bom físico. Era bem apessoado. Cabelos longos(era moda), bem pretos, lisos, escorridos... usava barba. Mas, o destino não foi muito generoso com ele: ficou careca. Nas últimas vezes que o vi, ele usava um cavanhaque.

Sua voz era bonita ; ele era muito culto, inteligente, carismático e conversava bem. Apesar do carisma, ele não era uma pessoa simpática. Era lacônico, discreto, seco, aparentava ser frio.
Só via seu lado, valorizando em excesso o que era seu. Era um egoísta. Os que conviveram mais com ele, diziam que ele era também temperamental.

Sempre suspeitei que ele não gostava de mim. Ele se limitava a responder as minhas perguntas, principalmente naquela época, quando eu era fanático por rock, e o Ególatra entendia muito do assunto.

Ele morava num apartamento, no centro de BH. Era o que se chama de "filhinho de papai". Recebia uma mesada mensal. Guardava um tanto do dinheiro, e todo final de ano ia no Rio de Janeiro comprar muitos discos importados. Nada como ser rico, não?rs

Como eu o achava exigente, no tocante a gosto musical, falei que ele levava jeito de crítico, que poderia ser um...

Anos depois, o Ególatra se tornou psiquiatra(não sei se ele exerce a profissão), proprietário de loja de disco, radialista, crítico musical de um famoso jornal de BH e também de uma famosa revista de rock brasileira.

Sua loja de discos, é uma das mais careiras da cidade. Tanto que nunca comprei cds em sua mão.
O Ególatra praticamente não fica na loja; deixa tudo por conta do seu empregado. Trabalha mesmo é nos sábados. A loja não tinha um bom movimento. Um outro lojista disse que o que se vende num sábado, dá para sustentar uma loja de discos. Será? Sei não...

Talvez por ser muito esperto, o estranho Ególatra demorou muito a se casar. Achei até que ele iria morrer solteiro(rs).

Quando eu trabalhava na loja de discos, em 1979, cismei que uma menina, que passava por volta das 18:30, em frente a nossa loja, acompanhada de colegas de trabalho, estava dando bola para mim.
Entusiasmado, estava pensando num modo de chegar junto, até que um dia, ela olhou para dentro da loja e disse: "ué, hoje o fofinho não está aqui". Surpreso, pensei , poxa, não é pra mim que ela está dando bola(rs), mas pra quem? Todos os funcionários e os proprietários da loja, estão aqui no momento... Rapidamente, me lembrei o P, que todo começo de noite ia na loja(ele era amigo de um funcionário da loja). Fiquei frustrado!rs. Felizmente, não contei a ninguém que eu pensava que ela me dava bola. Mas, fui justo, no dia seguinte, falei com o P: tem uma moça, muito bonita , que está te dando bola. Pouco tempo depois, pedi demissão...

Impressionante como eu dou foras, mancadas! A moça era linda, ruiva, de cabelos longos, bem clara, alta... e eu achando que uma mulher deste naipe estaria dando bola pra mim, um sujeito de 1,72 cm de altura, 55 quilos de peso e dono de um rosto feio. Pouquíssimas foram as mulheres bonitas que fiquei, namorei, e as que fiquei, não foi por elas me darem bola, foi porque, no principio, elas gostaram da minha pessoa. Contudo, em pouco tempo, percebiam que eu não era tão legal como parecia ser, e se afastavam. E eu, com 23 anos, mesmo tendo ciência da minha feiura , pensei que uma linda moça estava a fim de mim... O P, sim, é que merecia uma mulher como ela. O P era alto e bonitão.

Uns dez anos depois, revelei ao P que pensei que a O(era a inicial da moça) estava dando bola pra mim. E ele disse que namorou com ela... que quase deu casamento...

Seu amigo, o T, disse que a O ficou a fim do Ególatra, quando ainda namorava com o P. Ela se apaixonou por ele. Não sei se rolou traição, sei que o Ególatra e a O tiveram um caso.

Então, é isso, o Ególatra é um dos caras mais bem sucedidos que conheci, da turma que frequenta e/ou comercializa discos. Muitos, mas muitos destes caras, estão em péssima situação financeira, falidos, uns até piores do que eu; e muitos são pessoas mais camaradas, flexíveis... e pessoas tão egoístas, duras, sem piedade como o Ególatra, são as que vencem.

O mundo é dos espertos(e dos habilidosos)!

2 comentários:

  1. To aqui degustando sua alma masculina peculiar enquanto ouço Tindersticks...
    Curioso...se diz misantropo mas traz a tona uma memória afetiva repleta de fragmentos de convívio e tentativas de estabelecer-se para num após imediato fazer um julgamento de valor baseado em adjetivações subjetivas de pessoas, formas, contextos...
    Tem uma espécie de saudosismo que cria palavras com odores a priori apenas aparentemente amargos mas profundamente sensoriais, oníricos...
    Bom de se ler tomando um café fresco numa tarde com ou sem entendimento algum...

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  2. Oi, Renata. Seja bem vinda. Obrigado por sua presença.
    Não conhecia o Tindersticks. Gostei, viu!

    Minha infância e mais ainda a adolescência, me marcaram muito, daí , é difícil eu esquecer.

    Não sei se existe alguém que já nasça misantropo, mas, com o passar do tempo, me tornei isso. Com 18 anos , eu já era um solitário. No entanto, demorei muito a me conhecer.

    Sensorial, onírico, pode ser... aparentemente amargo, não, amargo mesmo!

    Vc conhece Killling Joke? Talvez eu ainda poste alguma coisa da banda por aqui.
    Abraços

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