Total de visualizações de página

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Na Quietude do Campo(2)

Ainda continuo achando muito estranho a minha prima não ter me dado presente de aniversário.
Ela sabe, por exemplo, que adoro bolo.  Há poucos meses, uma das minhas tias, ao completar 80 anos, foi homenageada.  Minha prima comprou um bolo de aniversário pra ela.

A prima sabe que gosto de melancia e, pela primeira vez, na semana do meu aniversário, trouxe uma, inteira, na fazenda. Surpreendentemente, ela deixou a melancia, intocada, na varanda da casa onde ela fica. A melancia, dias depois, acabou estragando(não pego nas coisas deles, sem a autorização dos mesmos).

Minha prima estava esquisita comigo.  Tenho algumas suspeitas sobre seu comportamento, sendo a mais provável dela achar que não estou correspondendo às suas expectativas.  Talvez ela pense que estou muito devagar.  Quem sabe, pode ser que ela tenha se irritado com o meu isolamento, entre outras coisas.

E, neste famigerado feriadão, no qual completei 60 anos de morte, perdão, de vida, o cunhado do marido da minha prima, também chegou a me aborrecer.  Pessoas: problemas.

O líder soviético Stalin dizia que a morte é a solução para todos os problemas.
Como todo marxista convicto, Stalin era radicalmente ateu, não acreditando em vida depois da morte.
Se depois da morte, não houver vida, realmente, a morte é a solução para todos os problemas. Mas, e se haver vida além-túmulo e os problemas continuarem?

Há anos e anos, vivo a repetir, que as pessoas são sinônimos de problemas.  Minha ex-paixão, como sempre, me criticava, ao questionar que pareço superior, alguém de achar que se acha  de um feitio diferente.
Não obstante, sempre tive consciência que, como pessoa, também sou um problema.
Porém, procuro me bastar a mim mesmo.  Me tolero.  Gosto de mim.  Sou a pessoa que mais gosto na vida.  Não me admiro, assim como não admiro ninguém, no tocante ao caráter, apesar de reconhecer que existem pessoas de boa índole, melhores, neste quesito, do que eu. O que posso admirar são certos tipos de talento, como o dos músicos de rock , outros artistas e pessoas comuns que têm muita habilidade, donas de dons especiais.

Se já é difícil eu ter que conviver comigo, que sou uma pessoa, portanto, sou um problema, por que sou obrigado a conviver com outras pessoas, que , igualmente, são problemas?  Com isso, o sofrimento é bem maior!  Por que colocar filhos no mundo, aumentando os problemas em "nosso" conturbado planeta?  Por que procriar mais seres infelizes?

O marido da minha prima diz que nenhum homem é uma ilha, mas eu sou. E só não sou uma ilha maior porque o destino não deixa.

Continuo temendo pelo meu futuro.  Creio haver ainda o risco de eu ir parar num albergue.  Como acabei de revelar, suspeito que minha prima não está satisfeita comigo.

Percebi que a pior fase na roça é a primavera, em especial ao período setembro/novembro, quando a seca está a toda, com um calor insuportável, a terrível proliferação dos insetos e os insuportáveis barulhos das cigarras.  Contudo, no outono, o tempo está bem ameno. O silêncio, a quietude do campo, é gratificante.

Na quietude do campo, mesmo quando ago as plantas, faço limpeza ou capino, penso mais, bem mais do que quando morava na cidade.
Os fantasmas do passado aparecem com mais intensidade... os maus pensamentos. E a grande maioria dos meus maus pensamentos existem, graças às pessoas; as pessoas que foram injustas, que me prejudicaram, que me humilharam, que fizeram pouco caso de mim.  O vulgo dirá que tenho uma mente doentia, psicótica, mas, continuo a achar que os culpados são as pessoas, sinônimos de problemas!

Ah, 60 anos... idoso... velho... O que esperar?  A cada dia o mundo fica mais sem graça e chato de se viver.
Na quietude do campo, no silêncio gostoso, em companhia da solidão, a vontade de praticar o corte final aumenta.  E o que não falta são árvores, no campo.  Quem sabe, um dia...

"Na solidão, o solitário incomoda a si mesmo.  Na multidão, muitos o incomodam. Faça tua escolha"(Nietzsche)


Nenhum comentário:

Postar um comentário