Total de visualizações de página

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

O mesmo velho filme que nunca termina

O semestre de 1973 estava pra terminar.
A secretaria do colégio Vital Brasil acabava de informar aos meus pais , que eu estava matando aulas, com muita frequência.

Meu pai, pra me castigar, fez com que eu trabalhasse na banca , a qual ele trabalhava, no Mercado Central, no mês de julho, durante as férias escolares.

Como eu detestava estudar, achei melhor não mais voltar à escola, e comecei a minha "carreira profissional".

Eu trabalhava numa banca de frutas, de propriedade do irmão mais velho do meu pai(ele é pai da minha ex-patroa, da fazenda).  Em frente, havia a banca, também de frutas, na qual trabalhavam o meu tio e meu pai.  Tal banca, pode se dizer, foi a causa do enriquecimento do irmão do meu progenitor.

Há anos que meu pai e o tio trabalhavam juntos, contudo, eles não se entendiam.  Afinal, ambos vaidosos e geniosos... meu pai era pior ainda que meu tio.

A principio, eu estava gostando de trabalhar no Mercado Central. Mesmo trabalhando mais de 70 horas semanais, já que meu tio não dava folga para seus empregados(nem ele mesmo folgava...).  Trabalhávamos de segunda a segunda...  E eu, neste ínterim, namorei, paquerei(ia até na zona boêmia), bebia com os colegas, nos botecos(ou melhor, com um colega), ia no cinema... jogava sinuca...

Eu tencionava ser proprietário de uma banca de frutas, similar a qual eu trabalhava.
Pela primeira e única vez na vida, eu, com 17 anos, sonhava em ser (um porco) capitalista.
Assim como alguns patrões, eu faria as compras das mercadorias, na parte da manhã, trabalharia no mesmo horário, na banca, e a tarde, descansaria e/ou paqueraria, deixando o estabelecimento por conta de um empregado de confiança(certamente, eu o pagaria muito mal).  Sublime, não?

Em 1974, o Ceasa(o certo é falar a Ceasa, mas acostumei a falar errado, como muitas pessoas-rs) foi criado, e meu pai recebeu uma proposta irrecusável de gerenciar uma loja de frutas, no local.
O velho percebia um ótimo salário, e só não ficou rico, porque ele e minha mãe eram perdulários; não sabiam aplicar o dinheiro... Tínhamos muito conforto!

Porém, bastou poucos meses para  que minha vontade de ser um porco capitalista, passasse.  E passei a detestar o Mercado Central, a meu ver, um trabalho escravo, uma prisão.

No Mercado Central, assim como em outros estabelecimentos comerciais, há os fregueses assíduos, sendo que uns a gente gosta, outros não... Geralmente, tais fregueses, apareciam no mesmo dia, na mesma hora...
Bem, cheguei a um ponto que eu tinha antipatia até dos fregueses legais, os não chatos.
Era uma coisa, tipo assim, vamos supor que a freguesa se chamava Claúdia, eu a via se aproximar da banca, e pensava:  "Ih, a Cláudia!".  Contudo, eu não tratava ninguém mal...

Pedi demissão , com apenas 9 meses de trabalho.  Apesar do meu desdém com o Mercado Central, graças à necessidade , minha limitação profissional(pra não dizer burrice e falta de habilidade) e pressão familiar,
trabalhei outras vezes no local, em outras bancas e mais duas vezes na banca do tio paterno.
Nos anos 80, foi a vez de sofrer em escritórios, mormente em contabilidades...

E, hoje, estou morando numa fazenda,sustentado por um fazendeiro, um porco capitalista, que é meu primo.
Faço serviços bobos e chatos. Ninguém me leva a sério.  Estou idoso!
Não tolero mais conviver com o caseiro e com a sua família.  Não tolero nem olhar para o quintal, para a fazenda, no geral.  E a rodovia?  Sem acostamento... carros, motos, caminhões(ainda bem que passa poucos ônibus)...  o primo é um chato, sua esposa idem...

O mesmo velho filme, que nunca termina.
Claro que um dia ele terminará, mas está demorando demais!

Com vontade de mandar todo mundo da fazenda para aquele lugar!
O mesmo velho filme... muito triste!

Nenhum comentário:

Postar um comentário