Aniversário(continuação)

Uma das coisas que me deixou preocupado foi que o muro do barracão era muito baixo, não chegava nem a dois metros.

As coisas que eu mais temia eram segurança e enchentes. Meus mais de 1.000 discos era um chamarisco para ladrões. E como sou muito introvertido, recluso, isso poderia suscitar antipatia dos vizinhos, que poderiam pensar que sou esnobe.

Meu desanimo e descrença eram tantos, que pensei que eu não iria sobreviver. Não desembalei minhas coisas de imediato. Fiquei de uma semana a quinze dias sem desembalar as coisas, que tinham sido embaladas pela faxineira da minha mãe. Eu não sabia nem onde estava o café. Eu saia todos os dias, bebendo e comendo fora. Eu estava muito apaixonado por ELA, a tal, mas mesmo adorando sua companhia, não tinha esperanças que ela me correspondesse... e naquela época, a gente se entendia... ela me deu forças... reconheceu que eu estava muito desanimado. Quase me suicidei. Cheguei a pegar a força,  subi no tanque... mas , não tive coragem de fazer o corte final.

No entanto, o ambiente do local era bom, mas dei azar porque os vizinhos que moravam comigo de parede e meia, me azucrinaram durante meses, com som musical em volume alto. Dialoguei, xinguei, ameacei, chamei a polícia algumas vezes, falei com a imobiliária e com o proprietário do imóvel... nada foi resolvido. Quase doido,com muita raiva, pensei até em comprar um revólver. Eu iria dar parte na polícia civil, mas, quando fui até a casa da ex faxineira da minha mãe, pegar uns calmantes, que ela me prometeu; calmantes que eu usaria quando a poluição sonora acontecesse em casa(não sou de tomar remèdios), fui atacado por um cachorro, que não tocou em mim, mas eu caí , quebrei o punho e fiquei 41 dias engessado, do punho até o ombro. Isso me desanimou mais ainda. Nem fui na polícia civil. Tudo por causa das pragas dos vizinhos!

E mesmo sem ter lugar para morar, me mudei em 24.12.2009. Fiquei na casa do meu irmão, e minhas coisas ficaram na residência da ex-faxineira da minha mãe. Foi um sufoco! A mulher do meu irmão e seu casal de filhos adolescentes, não me trataram lá muito bem...

Entretanto, tive sorte, seis dias depois, me mudei,graças a ex-faxineira que me indicou um barracão aconchegante, e vivo há 5 anos nele.

E, nestes últimos anos, levei dois grandes bofetões: 1) o afastamento dela, me desprezando, me esnobando, me acusando injustamente de tê-la enganado,saindo da minha vida, duma maneira que diria até desumana; 2) a venda dos meus mais de mil discos, depois de 38 anos de paixão.

Pode se dizer que minha saga no mundo está para terminar. Vivo a falar, citando Sófocles e Schopenhauer, que melhor para o homem seria não ter nascido. Porém, sempre me pareceu, apesar dos pesares, que a maioria das pessoas não pensa assim. Elas amam a vida. Gostam de carnaval, futebol, festas diversas, danças, bagunças... e tem suas ilusões, seus sonhos. Gostam de procriar, curtem seus netos. Tem seus amigos/companheiros... viajam... acreditam em dias melhores.Toleram seu trabalho. Creem no amor. Afirmam que Deus existe e que temos uma alma, que somos eternos.
Eu, com 58 anos e 8 meses, é que não deveria ter nascido, afinal , nada do que citei, me satisfaz.
E "atrás do trio elétrico, só não vai quem já morreu". Morri há tempos, mas ainda não caí.
"Eu desisto, não existe esta manhã que eu perseguia, um lugar que me dê trégua ou que sorria; uma gente que não viva só pra si"... vem que eu digo, que estou morto para este triste mundo antigo...(Taiguara).

Estou cada vez mais repetitivo...