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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A Terra que te pariu

Nesta última semana, aconteceu duas coisas desagradáveis.

Meu fogão parou de acender. Tive que comprar uma mangueira com um registro.
O caseiro da fazenda, gentilmente, a instalou para mim.  Em agradecimento, lhe dei duas camisas, muito boas , por sinal.
No dia seguinte, o fogão não acendeu, no começo da noite.
Cheguei a pensar que ele estragou, de vez. E como eu faria sem fogão, já que não tenho dinheiro para comprar outro. O primo me daria outro? A mulher do caseiro cozinharia pra mim?  Ou eu ficaria sem comer?
Mas, felizmente, no dia seguinte, o fogão voltou a funcionar normalmente.

Ontem, de manhã, o filho de criação do caseiro, de 13 anos, me perturbou, me provocou.
O xinguei, sem proferir palavrão, e falei com o pai dele, que disse que o moleque anda dando muito aborrecimento, inclusive destratando a própria mãe.
Eu e ele rastelamos semanalmente.  Antes da nossa discussão, eu já pensava em não mais rastelar com ele, planejando rastelar sozinho.  Agora, não rastelo mesmo, só rastelo sozinho.  Mesmo se o caseiro e meu primo me obrigarem a ficar na companhia do moleque, eu não fico.

Eu já evitava contato com o caseiro e a sua família... não tenho nada contra eles, a não ser, agora, pelo moleque, mas é que não gosto de precisar e nem dar trabalho para os outros. E, também, pelo amor que tenho pela solidão.  Aquela velha história de não gostar da companhia humana. É, devo ser louco.  Monomaníaco, cismei com a solidão, não consigo viver sem ela.

Um primo, irmão da minha ex-patroa, da fazenda, o tal que falou que iria matá-la, uma vez, me disse que detesta ensinar as pessoas.  Muito radical, não?  Arrogante, certo? Bem, apesar de eu nada saber, não vejo problema algum em ensinar às pessoas, embora nunca tenha passado em minha cabeça de ser professor.
Porém, eu não gosto de ajudar e nem de ser ajudado pelas pessoas.
Vero que tudo isso é necessário.  Todos precisamos de cada um.  E claro que já ajudei as pessoas e fui ajudado por elas.  Hoje, sou ajudado pelo meu primo.  Hoje, vivo de favor, de caridade.
Qualquer tipo de ajuda, é uma necessidade, e necessidade é dor, é ruim.
Não sou de pedir dinheiro emprestado e detesto emprestar grana para os outros.


O Dia Em Que a Terra Parou
Raul Seixas
 

Essa noite eu tive um sonho
de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
com o dia em que a Terra parou

Foi assim
No dia em que todas as pessoas
Do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado em todo
o planeta
Naquele dia, ninguém saiu saiu de casa, ninguém

O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão, também não tava lá
e o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou (Êêê)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou

E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

No dia em que a Terra parou (Ôôôô)
No dia em que a Terra parou (Ôôô)
No dia em que a Terra parou (Uuu)
No dia em que a Terra parou

O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

Por que a Terra não para de vez, pra sempre?

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